Fotografias por Lola Paprocka
Lola Paprocka sempre teve um soft spot por “tudo o que é betão”. A fotógrafa polaca cresceu ladeada pelos blocos residenciais de traço industrial da cidade de Poznan, a oeste da capital Varsóvia, e desenvolveu uma “obsessão pelo brutalismo” arquitectónico da Europa comunista. Recentemente, guiada por memórias antigas, a artista residente em Londres desenvolveu um projecto visual sobre a relação entre a arquitectura e as comunidades destes aglomerados monocromáticos do leste europeu. O resultado está no livro “Blokovi: Novi Beograd“, publicado pela Palm* Studios, monografia que explora a paisagem pós-Guerra Fria de Nova Belgrado, na Sérvia.
“É impossível não sermos influenciados pelo passado e pelo que nos rodeia”, conta Paprocka. “Passei a minha adolescência num destes blokovi antes de me mudar para Londres, por isso este é um projecto muito pessoal.”
Durante uma abafada semana de Verão, Paproka registou com uma câmara médio formato Mamiya RZ67 a vida tal como esta acontece diariamente em Nova Belgrado. O incentivo para que a cidade da antiga Jugoslávia fosse o sujeito primário de “Blokovi” partiu de Mima Bulj, curadora nativa daquela cidade e amiga de longa data de Paprocka. Ambas partilham um passado escrito sob contextos e experiências urbanas semelhantes, pelo que Bulj sugeriu que “Blokovi” espelhasse esse vínculo através do olhar de uma “forasteira nostálgica”. Visão essa que em “Blokovi” se traduz numa série de imagens de arquitecturas grandiosas e retratos espontâneos dos actuais residentes dos blocos.
“Sempre nos sentimos de certo modo presas entre o Leste e o Ocidente”, afirma Paprocka. “Identificámos semelhanças entre as mentalidades polaca e sérvia e foi a compreensão mútua, o reconhecimento e a nostalgia que nos uniram neste projecto.”
A população de Belgrado disparou em finais de 1940, impulsionada por um baby boom e pelas deslocações humanas pós-Grande Guerra. Em paralelo com estas movimentações, surgiram as torres de betão que tocavam os céus nos bairros da zona sul de Belgrado e o município, então baptizado Nova Belgrado, tornou-se conhecido pela alcunha blokovi, ou “blocos”. Hoje, os blokovi abrigam uma borbulhante diversidade cultural, uma saudável mistura de gerações e uma comunidade de artistas locais que vive, trabalha e expõe regularmente nos blocos.
Apesar de residir em Londres há quase duas décadas, Paprocka começou por documentar os blokovi residenciais da Polónia em meados de 2010. Resgatando uma máquina fotográfica russa que pertencia à mãe, a artista capturou os laços íntimos entre a arquitectura brutalista e as comunidades locais, construindo o seu próprio estilo enquanto fotógrafa.
“O meu principal interesse reside na arquitectura, natureza e, desde há uns anos, em retratos”, explica. “Ando sempre com uma point n’ shoot comigo, mas só há uns 7 anos é que passei a levar a fotografia mais a sério. Agora que completei o projecto “Blokovi”, quero explorar mais o lado documental da fotografia.”
O próximo território em foco na série será a terra-mãe, Polónia, o que permite a Paprocka reconectar com as raízes e explorar as mudanças no país a que chama casa. “A Polónia transformou-se imenso durante os anos em que vivi em Londres e sinto a necessidade de voltar a conhecê-la, como se estivesse a reunir de novo com um velho amigo”, reflecte. “Tenho uma grande vontade de explorar o meu país e de expandir a série a outros blocos da Europa de leste.”